Bemdito

Burnout e autocuidado: você está perto de se queimar?

E se essa sensação de que precisamos estar em movimento 24 horas por dia significar que estamos viciados em nos sentir ocupados? Viciados em burnout?
POR Cintia Bailey

Foi meu aniversário na semana passada e, como um presente meu para mim mesma, decidi tirar alguns dias de folga do trabalho. Você sabe como é, para descomprimir e relaxar. 

A Inglaterra teve alguns dias de sol, então fui para Londres com minha filha, visitei uma amiga em Cambridge e até reservei um SPA para uma massagem.

Mas eu simplesmente não conseguia desconectar completamente. Bem, eu conseguia por um período de tempo, mas logo era consumida pela pressão para verificar meus e-mails de trabalho e ficar ciente do que estava acontecendo no escritório.

O que significa que eu não estava trabalhando fisicamente, mas a minha mente também não estava relaxando.

Então, comecei a pensar… E se essa sensação de que preciso estar em movimento 24 horas por dia, sete dias por semana, signifique que me viciei em me sentir ocupada? 

Isso veio à mente porque, embora a minha equipe estivesse lidando bem com a demanda no trabalho, eu ainda estava estressada, ansiosa, pensando que tirar uma folga para mim só significaria ter que trabalhar duas vezes mais quando voltasse para o escritório – o meu maior medo era não entregar a tempo o que concordei em entregar, seja o que for.

Sempre tive esse medo de ser pega por esquecer algo importante. Ou decepcionar alguém por fazer algo não tão bom.

Acho que, para muitos de nós, o estresse se tornou uma forma padrão de ser. E não estar estressado é estranho, esquisito. Tenho uma obsessão pessoal em ser competente em meu trabalho e, embora seja uma coisa boa de se buscar, estou sempre ligada. 

Eu sofro para dizer ‘não’, gosto de um bom feedback e de ser vista como alguém de confiança, então, novamente, por mais que sejam coisas boas de sentir, é fácil cair no burnout.

Reconhece as características? Exaustão emocional, física e mental, causada por estresse excessivo e prolongado, que ocorre quando você se sente esgotado e incapaz de atender às demandas constantes – especialmente no trabalho.

Por mais que tenha o desejo de colocar limites em meus colegas e aprender a dizer “sim” somente ao que realmente dá pra entregar, sou incapaz de colocar esses desejos em ação porque esses padrões habituais viraram a norma. 

Acho que, no meu caso, meu corpo não apenas se acostumou a ficar estressado, como também se tornou viciado na sensação – e anseia pelo furor que ela traz. Isso torna difícil não apenas relaxar, mas também mudar o meu comportamento a longo prazo.

Pensa comigo: burnout parece ser um problema moderno devido a alguns problemas também modernos. O primeiro é o neoliberalismo e a sua intensificação do trabalho – esperando sempre mais e mais das pessoas, em menos tempo e com o mesmo nível de recursos. 

Segundo, essa loucura de estar sempre ligada, infinitamente alcançável por meio da tecnologia atual. De repente, as fronteiras tradicionais entre trabalho e casa são totalmente perdidas.

Mesmo assim, é difícil não permitir que um trabalho exigente prejudique a nossa saúde.

Mas, ontem no SPA, fazendo uma massagem de corpo inteiro, tentei realmente desligar e focar nos movimentos das mãos da massagista, na música suave, nas sensações e na minha respiração. E me ocorreu, então, que talvez o que eu realmente precise é redirecionar para mim esse medo de decepcionar. 

Ou seja, talvez o meu maior medo deveria ser não entregar a tempo o que eu concordei em entregar para mim mesma: momentos divertidos, sono adequado, tempo de descanso, autocuidado, sabe? Não ser pega por esquecer algo importante. Realmente importante!

Cintia Bailey

Jornalista e podcaster, trabalha com comunicação no Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra e é criadora e host do podcast Chá com Rapadura.