Eles deram o que falar. Vamos aproveitar?
Quando engatamos um diálogo sobre os homens, em síntese, é sempre para detonar esses sujeitos históricos que têm tido benefícios, ao longo dos séculos, pelo simples fato de ter nascido com o sexo masculino. Sabe-se que, nascer com pontos à frente no que diz respeito aos privilégios, gera um interesse em não abrir mão dessas vantagens.
O avanço dos movimentos feministas e LGBTQIA+ sobrepujaram os reflexos desses tempos, e houve uma contrarrevolução conservadora promovida por aqueles que acharam já haver perdido muito: os homens. Sobre eles, pensamos que existe uma concordância do que são e como se constituem, todavia, indago: será que sabemos mesmo?
Pedro Ambra, em seu livro O que é um homem? nos convence que a resposta não é nada fácil. O endereçamento pode ter vias diferentes: não sabemos se falamos de homem, aceitando uma ideia de sujeito universal, sinônimo de humanidade e cidadão; ou se a pergunta faria referência a alguém do sexo masculino, classicamente situado em oposição à mulher. A complexidade em defini-lo, necessariamente, passa pelo debate de crise da masculinidade.
Engana-se quem pensa que essa crise é algo do nosso tempo! Contudo, seguramente, (re)aparece em todos os momentos históricos no qual as mulheres reagem às dominações masculinas e consolidam novos papéis. Como somos as oprimidas deste sistema em que estamos inseridas – enfatizando que precisamos atentar para as interseccionalidades de gênero, raça e classe, ou seja, umas são mais oprimidas que outras – são bem mais prolixas as pesquisas sobre as mulheres hoje.
Aos homens pesa certo silenciamento das suas pluralidades – quando são abordadas essas questões, é do ponto de vista das masculinidades hegemônicas, ou seja, o modelo culturalmente construído e aceito socialmente. Aquele que você bem conhece.
O homem, para se afirmar, precisa ser impassível e independente, e deve negar tudo o que se relaciona ao universo feminino: fraqueza, romantismo e moleza. Gosto muito de uma sentença proferida por Norman Mailer, que diz: “Ser homem é uma batalha sem fim de toda uma vida.” E é assim que o homem se socializa, procurando provar, todos os dias, seu vigor, sua virilidade e seus dotes físicos.
Aprende desde cedo a não dizer “não”, a estar sempre disposto para o sexo. Aprende que não pode falhar. Embora as mulheres mais velhas tenham adquirido a independência tardiamente, são os homens de mais de 60 que encontramos desfilando com suas parceiras.
Semana passada, dois longevos de mais de 75 anos deram o que falar nas redes sociais. Chico Buarque anunciou seu casamento com a jurista Carol Proner, ficando numa posição coadjuvante – aposto que você nem deve ter tomado conhecimento – frente aos protagonistas da cena: Lula da Silva e sua namorada, Janja, curtindo a lua cheia em uma praia cearense. Dois idosos e suas namoradas na faixa etária dos 40 anos.
Em conversas furtivas com as amigas, questionávamos se a coxa do ex-presidente era tão dura como mostrava a fotografia, pois há questões que são peculiares a essa fase da vida, mas ao mesmo tempo, sei que pessoas ilustres, celebridades, parecem não envelhecer. A impressão que se tem desses dois é que foi ontem que estavam em cima dos palcos, carregados por uma multidão juvenil. Mas não foi ontem, foi anteontem.
Conhecidos como “sedutores das têmporas cinzas”, o autor David Le Breton, em As paixões Ordinárias, refere-se que o homem ao envelhecer é visto como um sedutor, diferentemente da mulher. A mulher idosa perde socialmente esse lugar da sedução que era relacionado ao seu frescor, à sua juventude.
O homem, com o tempo, é como se tivesse uma força de sedução crescente, porquanto se valoriza nele a energia, a experiência, a maturidade. Fala-se do “sedutor das têmporas cinzas”, de “belo velhinho”; esses qualificativos, porém, nunca são associados a uma mulher. Uma mulher que busca ainda seduzir um homem bem mais jovem que ela atrai um juízo sem complacência da sociedade; aos homens, ao contrário, é absolutamente admitido. E testemunha, em última instância, o seu “vigor”.
Estávamos tão carentes de boas notícias de políticos, que as coxas de Lula foram um bálsamo e serviram até para lotar as academias. Inclusive eu retornei aos treinos – quem sabe dê tempo de chegar aos 75 como ele (risos, muitos risos).
Lembro que a presidenta Dilma pedalava, diariamente, nas adjacências de seu Palácio, em Brasília. E com minha imaginação fértil, fico a imaginar se fosse ela, de biquíni, na praia cearense, com um boy abraçando-a por trás. Sim, minhas caras – falo no feminino, pois admito que é difícil para os homens esta coluninha –, teria tido um outro tipo de repercussão e brincadeiras.
Digo tudo isso em nome dos nossos diálogos problematizadores dessas lógicas binárias da sociedade cisheteronormativa. É bom lembrar que os homens têm situação privilegiada desde quando nascem até a velhice.
Mas me diverti muito com os memes e figurinhas, e postei no meu IG, o textinho A Lua de Lula é mais bonita, e assim finalizei: “Absolutamente nada suplantava o rebuliço e a sanha do povo em replicar as pernas de Lula, brincadeiras sobre o verdadeiro triplex e o retorno inadiável aos treinos. Convenhamos, deve ter tido muito velho com arminha na mão vendo o cabo derreter rumo ao centro do universo. A gravidade não ajuda a todos!”