Bemdito

Viramundo e Kiko Dinucci: canções para baobá

Um encontro de música, história e ancestralidade
POR Ivna Girão
A banda cearense Viramundo (Foto: Divulgação)

Força, grandeza e beleza. Do tronco largo, das folhas que alcançam o infinito. E além. Tenham o prazer na vida de reconhecer e se abraçar, pelo menos uma vez, com um baobá. Há um mistério em Fortaleza: são poucos os exemplares dessa árvore por aqui. Se você se encontrar com uma, celebre e faça seu rezo. O seu caminho será de bênção.

Nada passa impune à sua opulência. Deixe a planta crescer, deixe as suas imensas raízes penetrarem o profundo, sua ancestralidade, se deite e se deleite na sombra do mestre.

Assim como a grandeza do baobá, temos a potência do encontro do trio cearense Viramundo com o guitarrista paulista Kiko Dinucci que, juntos, estreiam no sábado, dia 9, às 18h, um trabalho inédito no canal do YouTube do Porto Dragão, equipamento da Secretaria da Cultura (Secult-CE). Baobá é fruto de criações que se consolidam em árvores antigas. 

Eu já sou fã do balanço da banda cearense Viramundo desde outros trabalhos. Tenho na playlist e no peito a gravação Iara , sempre por perto. É uma beleza gostosa de escutar. Gravado na Sabiaguaba, o vídeo, lançado em 2011, se alicerça na força feminina da cultura afropindorâmica, referências ancestrais presentes em todo o trabalho dos artistas. Com o novo Baobá, a expectativa de um outro bom encontro aumenta ainda mais. 

A parceria entre a Viramundo e Kiko Dinucci vem desde o começo do ano, na tutoria virtual durante o Laboratório de Criação da escola Porto Iracema das Artes. Em 2021, o reencontro, agora presencial, gerou Baobá, episódio inédito do programa Zona de Criação, realizado pelo Centro Cultural Porto Dragão.

A poética do episódio perpassa pelo tempo e por suas diferentes percepções. Inspirados pela curiosidade sobre como a árvore percebe a vida ao seu redor, os artistas buscam aproximá-la da obra, inspirados na relação com as árvores antigas da cidade que articulam ancestralidade, urbanidade e memória. 

A sonoridade do encontro se compõe de forma ácida, ruidosa, mas também introspectiva e branda. Além do paulista Kiko Dinucci, o episódio conta com mais participações especiais como Yalorixá Valéria Ty Logun Éde, uma das mães de santo mais antigas da cidade, que colaborou no processo criativo e emprestou a voz como narradora.

No episódio, os artistas apresentam três canções inéditas que foram desenvolvidas ao longo do laboratório, sendo elas Funfun, Menino Moço e Ewá (finalista do Festival Musicanto, no Rio Grande do Sul). Além de uma canção que compõe o repertório da banda Metá Metá, escrita por Kiko Logun Edé. 

E para adiar o fim do mundo e plantar baobás em nossos corações, trago aqui uma outra canção-poesia para acalentar e regar os dias. Tenho ouvido muito, sempre ao amanhecer, a música Árvore, de Fran e Chico Chico, uma descoberta que me balança da raiz às folhas e meus cabelos. “Todo santo dia, pois todo dia é santo. E eu sou uma árvore bonita. Que precisa ter os teus cuidados”. E convido, vem me regar, mãe. Viva a mata que cresce bonita, faz sementes e brota tão criativa nas artes do Ceará.  

Serviço
O episódio “Viramundo + Kiko Dinucci – Baobá” sairá no dia 9 de outubro, às 18h, no canal do YouTube do Porto Dragão.

Ivna Girão

Jornalista, historiadora e escritora, é coordenadora de comunicação da Secretaria de Cultura do Ceará.