Deita que lá vem a história…
A Covid-19 gerou outra crise de saúde global, que alguns apelidaram de “coroninsônia” – e tem algo que pode ajudar
Cintia Bailey
cintia.bailey@outlook.com
As coisas estão acontecendo bem rápido por aqui. Autoridades do Reino Unido liberaram os “abraços cautelosos”, na semana passada, após mais de um ano do início das restrições em função da pandemia. O calendário social do Reino Unido foi aberto para valer e, só para você saber, um “abraço cauteloso” é aquele que acontece ao ar livre, sem contato cara a cara, e que não dura muito.
Há otimismo no ar e, com sorte, Covid será uma coisa do passado. No entanto, por mais que pareça que voltamos ao normal nas bandas de cá, uma coisa não mudou desde o início da pandemia, pelo menos não para mim: o sono.
Parece que a Covid-19 gerou outra crise de saúde global, que alguns apelidaram de “coroninsônia”: a incapacidade de adormecer ou ter um sono de boa qualidade durante a pandemia.
Bem óbvio para mim foi que passei a despertar mais cedo do que o normal. Até consigo dormir, mas acordo às 4 horas da manhã e não consigo mais voltar a dormir. E isso é claramente um desafio porque, conforme a pessoa dorme, a pressão do sono diminui. Não se tem o mesmo tipo de sonolência para voltar a dormir. E com os estressores adicionais com os quais todos estamos lidando, é muito mais difícil voltar a dormir.
Você também?
Talvez, para mim, não ajude muito o fato de eu ainda passar muito tempo no telefone antes de dormir, beber mais do que nunca nos últimos meses e simplesmente não conseguir desligar a mente, de forma alguma.
Não sou uma pessoa calma por natureza. Eu sempre tenho um milhão de coisas em movimento e a ideia de ficar parada, mesmo que por alguns minutos, me enche de pavor. No entanto, uma solução que me foi recomendada durante a primeira onda da pandemia, em março do ano passado foi baixar um aplicativo de mindfulness ou passar a ouvir histórias para dormir. Aparentemente, é a novidade do momento.
Se você pensar bem, faz todo sentido. Uma de nossas primeiras lembranças deve ser de adormecer enquanto alguém nos conta uma história, então seria mesmo apenas questão de tempo para que histórias para dormir, focada em adultos, se tornassem uma tendência, especialmente quando nossos telefones se tornaram uma mão na roda e também a nossa maior fonte de distrações.
As opções são infinitas – para quem quer apenas barulho de fundo, sons da natureza, música calmante, meditação guiada, etc.
Para mim, foi interessante observar o quão incrédula eu estava no início. Depois passei a analisar o conteúdo. Escrever tais histórias é um ato de equilíbrio complicado. Se uma história for muito enfadonha, os ouvintes não esquecerão seus problemas. Se for muito interessante, eles não adormecerão.
Os escritores devem ficar loucos, tentando deixar de lado todas as ferramentas para uma narrativa interessante – conflito, tensão, reviravoltas –, tentando ser neutros e, ao mesmo tempo, criar algo legal.
Enfim, embora meu sono ainda seja um problema – e talvez sempre será -, notei uma grande diferença quando me dou a oportunidade de ouvir uma história para dormir. Uma vez, em um momento aleatório, comecei a ouvir alguém simplesmente contando de 100 a zero. Meramente falando “noventa e nove, noventa e oito…”
Eu pensei: quem diabos adormece ouvindo isso?
Bem, só posso dizer que não me lembro de chegar ao número 50… ZzzZzz.
Cintia Bailey é jornalista e podcaster. Está no Instagram.