Teatro: uma saudade absurda

Tenho um pacto com meu marido, daqueles selados para, só assim, a vida a dois dar certo: saiba — se um dia eu estiver bem triste, me leve para perto do mar ou, melhor, se tiver alguma peça em cartaz, me leve ao teatro. E no caos que é morar no Brasil, com essa pandemia e esse pandemônio, já imaginou a abstinência que estou sofrendo com os palcos sem público?

Mas, para alegria geral, os espetáculos presenciais estão voltando. Graças à ciência e à resiliência da classe artística, as portas estão reabrindo e as luzes da ribalta acendendo novas emoções. Tenho nem roupa para isso — besteira, o importante é ter máscara no rosto, vacina no braço e fé no coração, ter crença na retomada da arte, que a cultura e a democracia vencerão esse vírus. É tempo de recomeçar, de fazer esperançar as cênicas. Dias para sonhar com novos possíveis, sentar na plateia e viver o bonito da vida.

Mas, a pandemia ainda não acabou. Ir ao teatro é um respiro para aguentarmos o que virá. Ainda temos um governo para derrubar e óbitos por Covid para zerar. Não baixe a guarda. Para manter a cultura viva, protocolos e cuidados ao entrar. Tenho feito — vez ou outra — esse exercício de vestir minhas armaduras e enfrentar a cidade: “vai com medo, mas vai”.

Dá para sentir a brisa da vida de novo. Anota aí algumas dicas de trajetos e lugares que estão, com todo cuidado, reabrindo: a Casa Absurda está retornando, em setembro, espetáculos cênicos presenciais; é possível também, com agendamento, fazer um passeio gostoso entre livros na Biblioteca Pública Estadual do Ceará, uma ida a exposições de artes no Sobrado Dr. José Lourenço e na Casa do Barão de Camocim, visitar os museus e o cinema do Dragão do Mar, ir ao Museu Brinquedim, festejar o retorno do Cineteatro São Luiz.

Os primeiros shows com plateia também já estão marcados para os dias 17 e 18 de setembro, na programação do 22º Festival Jazz & Blues, em Guaramiranga. O município cearense é o primeiro a ter 100% da população adulta com pelo menos uma dose de vacina contra a doença. Os ingressos são limitados e com distribuição no site da Bilheteria Virtual. Mais informações no site www.jazzeblues.com.br.

Festa sem começo
“Voltar à cena é criar um tempo-espaço para imaginar outros futuros”, diz Francis Wilker, diretor teatral em um belo convite para a estreia de Há uma festa sem começo que não termina com o fim. Vamos juntas celebrar as esperanças no que virá? A Casa Absurda, um dos lugares de resistência e criação teatral, receberá de novo o público, de sexta a domingo, em setembro, a partir das 19 horas. Mais informações em @pavilhaodamagnolia.

“Livro é árvore, verso já foi traço escrito na terra arada. Os verbos são passado e presente simultâneos. Nenhuma palavra termina em si mesma, os corpos também não. Num rito coletivo de festa e de teatro, uma casa se reabre às/aos convivas e reaprende: como estarmos juntos novamente? Quatro artistas, tal qual páginas soltas de um livro, folheiam o tempo e convidam o público a percorrer um lugar, um ontem, uma vida, um agora, um país, um amanhã”, diz a sinopse de Há uma festa sem começo que não termina com o fim.

Tem arte também no centro da cidade. O Cineteatro São Luiz apresentará no dia 26 de setembro, às 18h, o espetáculo musical Cuidar de Nós, da banda Marimbanda. A atividade musical marca o retorno da música no palco principal do Cineteatro com público presencial. O espetáculo traz uma mensagem de consciência coletiva, afirmada no título escolhido, nas músicas e, sobretudo, na forma de conduzir o espetáculo neste encontro presencial com o grupo, que mescla músicas inéditas com outras já consagradas. Os ingressos estão à venda no Sympla e nas bilheterias do equipamento.

Para as crianças
E sem esquecer da criançada, temos também o retorno do Cine Miau. Com oficinas para o público infantil, seminário para educadores e exibições de filmes, a mostra internacional infantil de audiovisual chega à terceira edição com programação online e presencial. Iniciando no dia 23 de agosto, o Cine Miau segue até o dia 12 de novembro com atividades que buscam contribuir com a diversão e a reflexão da criança por meio do audiovisual, oferecendo conteúdos que dialogam com as diversas infâncias do Brasil e do mundo.

O Miau 2021 terá um mês inteiro de exibições, de 12 de outubro a 12 de novembro, com sessões presenciais e virtuais. Para o público em geral a programação de filmes acontecerá também no canal da Invento Produções no YouTube.

E para celebrar as artes e adiar o fim do mundo, convido: vamos ao teatro. Devagar, sem aglomerar, sem protocolos quebrar. A vida pede passagem. E a esperança é galopante, não deixa o público desanimar. O espetáculo até pode parar, mas a saudade não deixará o fim chegar. É vacina no braço e teatro de portas abertas! Viva a cultura que é viva!