Não é coisa de “mulherzinha”
É difícil lembrar de todas as vezes que fui chamada de louca por um homem no trânsito. E por atitudes que, se fossem protagonizadas por um outro homem, certamente não seriam nomeadas assim. Uma busca rápida por “pessoa histérica” nas imagens do Google mostrou três vezes mais mulheres do que homens. O mesmo acontece quando a procura é por “cena de histeria” ou “caso de histeria”.
Sentimentos como entusiasmo, nervosismo ou força são frequentemente interpretados de forma diferente entre os dois sexos. Um homem vendo um jogo de futebol é descrito muitas vezes como “apaixonado”. No entanto, uma mulher que muda de emoção por um motivo qualquer – mesmo que tenha sido provocada -, muitas vezes é considerada “irracional”. O exemplo foi descrito pela professora Adriene Beltz, que liderou um estudo realizado na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e publicado na revista científica Nature.
A pesquisa põe em cheque os preconceitos de que mulheres são mais emocionais do que os homens. Ela e seus colegas acompanharam 142 homens e mulheres ao longo de 75 dias para aprender mais sobre suas emoções diárias, tanto positivas quanto negativas. As mulheres foram divididas em quatro grupos: um com ciclo natural e três outros grupos usando diferentes formas de anticoncepcionais orais.
Os pesquisadores detectaram flutuações nas emoções de três maneiras diferentes e, em seguida, compararam os sexos. Eles encontraram pouca ou nenhuma diferença entre os homens e os vários grupos de mulheres, sugerindo que as emoções dos homens flutuam na mesma medida que as mulheres (embora provavelmente por razões diferentes). “Também não encontramos diferenças significativas entre os grupos de mulheres, deixando claro que altos e baixos emocionais são devidos a muitas influências – não apenas aos hormônios”, disse Beltz.
As descobertas têm implicações para além das pessoas comuns, dizem os pesquisadores. Eles explicam que as mulheres têm sido historicamente excluídas da participação nas pesquisas científicas em parte devido à suposição de que as flutuações do hormônio ovariano levam a variações, especialmente na emoção, que não podem ser controladas experimentalmente. “Nosso estudo fornece dados psicológicos exclusivos para mostrar que as justificativas para excluir as mulheres foram equivocadas”, concluiu a pesquisadora.