Quanto vale seu peixe?

Houve um tempo em que o peixe se vendia sozinho. Aqueles que tinham de se virar pelo tortuoso mar da iniciativa privada não precisavam exibir seus talentos na vitrine e, quando necessário, gritando ao megafone para chamar atenção. Agora, mais do que nunca, é preciso arregaçar as mangas e, a depender da área, mostrar ou não as tatuagens. Como diria Fausto Nilo: “Quem não chora dorme com fome”.

Neste contexto, não basta fazer o curso, é preciso dizer que o concluiu, postando no LinkedIn. O desesperado sobrevivente acaba convertendo-se no ególatra sujeito a julgamentos. Deixa que pensem, afinal, cada um sabe das próprias dores e das bocas para alimentar. Vai que no meio dos juízes perniciosos há um recrutador simpático à autopromoção. 

Além do mais evidente fruto do trabalho, os anos de experiência, os certificados, as comprovações, os diplomas ou, na acepção do sociológica de Pierre Bourdieu, os títulos de nobreza que acumulamos e que nos asseguram a elevação na hierarquia social precisam ser comunicados. São quase dois trabalhos os que se tem atualmente: o métier propriamente e a publicização que se faz sobre a realização deste. 

Não há garantias de recompensas, reconhecimentos e nem de idolatria ao dedicado trabalhador isolado que antes aguardava o “venha a mim”. Jean-Luc Godard, João Gilberto e Clarice Lispector construindo carreira em 2022 estariam numa encrenca. Talvez precisassem, forçadamente, recorrer à equipe de social media da ex-BBB Juliette. Enquanto o mundo arrodeia frenético, os energéticos passam a ser comercializados em latas de 400 ml ou mais e a indústria farmacêutica agradece as mudanças.